A necessidade de reconhecimento
“Só concedemos o reconhecimento a um outro livremente e não forçados“. Rudolf Bultmann, Crer e Compreender
A necessidade de reconhecimento faz parte da natureza essencial do ser humano. É bom ser reconhecido. É bom ser estimado. Mas não é isso que me impele a escrever. Antes, é seu aspecto destrutivo, sua perversão. Refiro-me àqueles que querem ser reconhecidos pela sua própria robustez. Àqueles que pretendem violentar a apreciação do outro com base na própria realização. Àqueles que julgam estar o próximo em dívida pelo simples fato de terem sido “presenteados”. Trata-se de “um erro de raciocínio; dádivas não conferem direitos”.
O tipo pervertido, forçado, da necessidade de reconhecimento, por vezes gera repulsa. Que pode ser dupla. O que força descamba na aflição infantil de se julgar merecedor. E o forçado se sente usado. Lispector sintetiza com beleza essa importuna situação: “Ao me usar ela me machucava com sua força; ela me arranhava ao tentar agarrar-se às minhas paredes lisas.” [1]
Essa situação só pode reverter com pura auto-entrega incondicional, em graça, destituída de toda vanglória e segundas intenções. Em liberdade, com aquele amor que se dá pelo próprio prazer criativo de se dar.
[1] Clarice Lispector, A Legião Estrangeira
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